segunda-feira, 26 de abril de 2010

AS PEGADAS DO AMOR



Não devíamos continuar nos amando nestes versos
feitos em hora de suprema beleza,
quando nem sequer mais existimos
nem somos dignos do fogo em que nos consumimos...

Não devíamos continuar nos amando nestes versos
com o mesmo louco e incontrolado ardor,
quando já não existimos,
e, - pior que tudo! - quando destruímos
o mito de eternidade desse amor...

Se eu pudesse, destruiria estes versos,
(Ah! como me faz mal o seu hálito frio!)
- versos que continuam a falar de nós
e me dão a impressão,
de carregar dois espectros de atores, num teatro vazio
em patética declamação...

Destino estranho o destes versos
a levarem um amor pelos tempos afora,
como um eco perdido
do que foi vida um dia, e foi ânsia
e foi voz...

Hoje são... como nossas almas descarnadas,
ou num chão de palavras, as pegadas
de um louco que passou
e se perdeu de nós...


( Poema de JG de Araujo Jorge extraído do livro
"Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou"
Vol. IV - 1a edição 1965 )

Um comentário:

Anônimo disse...

Maravilhosa poesia que, tristemente, define o fim de um amor...