quinta-feira, 28 de outubro de 2010

AO AMOR ANTIGO


Ao Amor Antigo


O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SABOR DO AMOR


Entrei pela porta da poesia,
deixando para trás a luz da lua cheia,
a noite ainda se despia
e eu a vesti com um poema.

A nua fantasia olhava-me
impúdica, sorrindo aos meus desejos,
abria-me botão por botão
deixando aparecer as rimas.

Acariciando a pele aveludada,
entre as dunas da nudez
o coração canta seus versos,
em cascatas de prazer.

És tu que escreves na minha pele
o poema com olor de alfazema,
e o meu corpo se afoga perfumado
no sabor do amor com todas as letras.


Lully

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

SOMBRA


Que sombra é essa que se aproxima lentamente,
deixando no ar uma fria melancolia?
Caminha descalça na nascente,
vestida de vermelho transparente,
gotejante de orvalho como lágrimas sentidas.

Ao chegar no fim do horizonte
pára e espera pela luz da lua,
procurando um sonho submerso
lá no meio das estrelas cadentes.

É uma sombra perfumada de flores,
essência de vários amores
que se foram pelo caminho,
como acordes de uma música suave
que, com tristeza, se dissipou no ar.

Irrompe então a madrugada, tudo se veste
de uma cor de ouro, mas a sombra permanece
e cresce no meu seio, não tem como ir embora,
pois é a saudade que você deixou
alí na minha pele tatuada!



Alessandra