quarta-feira, 12 de maio de 2010

ANTECIPAÇÃO


Amas-me fora do sonho,

amas-me antes de eu chegar,

como quem tem um motivo,

como quem quer começar.

Amas-me no adiantamento

que em todo amar se contém:

como quem observa ao longe

um veleiro que ainda vem –

como quem salta no escuro

à espera de que haja um chão

onde o seu salto repouse

depois do risco e da ação

(depois da inútil vertigem

em que todo risco vai

roçando o corpo de um neutro

vazio de ar em que cai).

Se me amas como quem bebe

uma anterior água vã

que a noite traz, mas não mata

a sede que há na manhã,

é porque tudo antecipas

num lance por ocorrer,

certa da glória e do prêmio

que os dados hão de prover.


Renato Suttana

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