domingo, 4 de janeiro de 2009

Morte, um trema de poesia.

É engraçado como só passamos a dar valor às coisas depois que as perdemos! É redundante, mas verdadeira essa afirmação, mesmo que essas coisas não nos sejam exatamente familiares ou bem quistas. Com os advindos da norma inicialmente determinada pelo acordo internacional de países de língua portuguesa e, posteriormente, a lei sancionada pelo executivo brasileiro transformando o Brasil no país precursor do bloco lingüístico a alterar formalmente sua grafia, é que me dou conta que perdemos algo, que ficou um espaço vazio em algumas palavras, poeticamente falando, que fazem parte de nossa historia e que até agora faziam parte de nossas vidas. Analisando, já com saudade, vejo que o trema nos remetia a elegância gélida da língua de Goethe, principalmente para os autores que tinham o prazer de serem extremamente formais em suas obras. Não digo que como estudante terei saudades dos acentos, hífens e principalmente do trema, mas confesso que como poeta sentirei uma certa nostalgia ao criar, pois perdemos a sobriedade do tom distinto e força visual que algumas palavras com o trema nos traziam.

E, para marcar a despedida oficial do trema, criei essa prosa poética.


O seqüestro do trema


Doravante qual a conseqüência

para a ortografia da abstinência

de um sinal lingüístico

antiqüíssimo, charmoso e místico?


Inexeqüível é expressar

de forma esférica e eloqüente um tema,

sem a pompa e a circunstancia do trema.


Argüir ou asilar essa

delinqüência ortográfica,

iniciada com um tratado

objetivando extinguir a ambigüidade

lingüística, incentivando

a união entre os povos

de língua lusitana.


Iniqüidade inconseqüente,

como miragem forjada em brasa ardente,

imposta por força de lei

firmada pelo eqüitativo presidente,

com visão grandiloqüênte

olhando a lusitana gente

objetivando aproximar

eqüidistantes continentes.


Edson Carvalho Miranda

04-01-2009

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