Navio sem chuveiro, casa sem porta, barco sem banheiro. Sejam todos muito bem vindos ao Blog O bucaneiro. “A casa dos pintores, dos poetas e dos arteiros. Então sejamos nós pessoas bacanas de muita sabedoria, ao copiarmos ou citarmos alguma obra do Blog Declaremos a autoria.”
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
A nossa casa, Amor, a nossa casa!
Onte está ela, Amor, que não a vejo?
Na minha doida fantasia em brasa
Costrói-a, num instante, o meu desejo!
Onde está ela, Amor, a nossa casa.
O bem que neste mundo mais invejo?
O brando ninho aonde o nosso beijo
Será mais puro e doce que uma asa?
Sonho… que eu e tu, dois pobrezinhos,
Andamos de mãos dadas, nos caminhos
Duma terra de rosas, num jadim,
Num país de ilusão que nunca vi…
E que eu moro – tão bom! – dentro de ti
E tu, ó meu Amor, dentro de mim…
de Florbela Espanca
sábado, 23 de janeiro de 2010
NÃO ME ACORDE

deixe-me continuar a sonhar a nossa noite.
Deixe-me lembrar o seu querer selvagem
o seu longo suspiro a invadir-me o corpo
os seus sussurros cheios de saudade.
E o seu olhar?
Ah, esse seu olhar profundo que chega
até a alma, com desejo...
Esse desejo intenso e provocante
que se renova a cada nosso beijo.
Não, não me acorde, pois se despertar
sentirei o aperto da mão da saudade
que vai me atormentar até você voltar.
Então sinto as pétalas da rosa que me deixou,
alí no travesseiro, o seu perfume,
promessa do seu amor, mas que não
vai fenecer tal qual uma flor...
Alessandra
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
SER POETA

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Uma chance de falar
A chuva chega violenta
e diz muito mais
do que eu humildemente gostaria.
E o que eu tenho pra falar
fica pelo vazio a me silenciar.
Sem uma chance de falar
caio feito a chuva
que há de lavar
pobres almas que não sabem amar.
Jenny Faulstich
sábado, 9 de janeiro de 2010
A DANÇA

Não te amo como se fosses a rosa de sal, topázio
Ou flechas de cravos que propagam o fogo:
Te amo como se amam certas coisas obscuras,
Secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
Dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
E graças a teu amor vive escuro em meu corpo
O apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
Te amo assim diretamente sem problemas nem orgulho:
Assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
Senão assim deste modo que não sou nem és,
Tão perto que tua mão sobre o meu peito é minha,
Tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se dependiam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado, decaído,
Tudo era inalianavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
Pablo Neruda
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
PALAVRAS

senti a necessidade de escrever esta poesia...
Poesia? Talvez nem seja, mas tão somente meus
sentimentos jogados alí tal qual palavras ao vento.
Ouça amor, as batidas do meu coração,
sinta a angústia que nele ficou,
abrace-me e sinta as lágrimas que não verti
e que agora caem sobre ti,
mas não diga nada, apenas ouça
deixe eu sentir o calor dos teus braços
as carícias nos meus cabelos
e o teu amor por mim!
Só assim eu serei feliz...
Venha amor, me dê o teu coração!
Alessandra
sábado, 2 de janeiro de 2010
AMO-TE

Elizabeth B. Browning
Amo-te quando em largo, alto e profundo
Minha alma alcança quando, transportada
Sente, alongando os olhos deste mundo
Os fins do ser, a graça entressonhada.
Amo-te em cada dia, hora e segundo:
à luz do sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não podem nada.
Amo-te com o doer das velhas penas,
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
e a fé da minha infância, ingênua e forte.
Amo-te até nas coisas mais pequenas.
Por toda a vida. E assim Deus o quisesse,
Ainda mais te amarei depois da morte.