quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Amante

Agora entendo o que significa o sentimento denominado de culpa.

Precisei achar novamente o amor, para saber exatamente o que é! Sou culpado por amar a quem não pode ser amado, por amar além de todos os conceitos, além do certo e do errado, além de mim, por amar quem já é amado, amar quem já ama!

Mas como isso seria errado se o meu amor é correspondido?

Quem ama tem culpa, quando erra por amar?

Mesmo que não, me sinto culpado!

Amo e sou amado, é verdade, de verdade!

Não posso e não devo mais admitir essa situação, essa condição, só não sei é se consigo.

Se difícil é ser traído! Pior é ser o objeto de uma traição!

Contudo, meu coração, não sabe o que é razão, certo, coerência, errado ou verdade, simplesmente ama, livremente ama, descomplicadamente ama, aventureiramente ama, clandestinamente ama, furtivamente ama!

E é tão espontâneo, que assusta, tão verdadeiro, que me sinto muito mal em saber que sou talvez o único culpado, pala infidelidade de alguém, todavia, não tenho arrependimentos, e a única sentença justa para mim seria a morte, por não ter o direito de viver tal sentimento. E ao ver pelo espelho, nossos corpos molhados,

ofegantes,

amados

amantes!

Condenados a não viver juntos e a esconder esse amor, ah, vontade de morrer! Mas isso não me libertaria desse amor, liberdade seria então conseguir ficar longe, uma vez que sou humano, fraco, não agüentaria a distancia e assim sendo, como ficar perto sem que o sentimento de culpa, de sujeira no corpo, na dignidade e até na alma não seja uma sentença diária?

Loucura!

Quando foi que apagaram a palavra amante do dicionário?

E quanto foi que essa palavra se tornou algo bom, desejável?

Somente os os tolos, os poetas, que não imaginam quão grande é o sofrimento de um amante desejariam saber o sentido e a intensidade dessa palavra, que nos condena a passar os dias vivendo de lembranças dos rápidos momentos de vida, de prazer.

Sua voz, você, minha consciência, meu inconsciente.

Dependência!

do verso que é o seu olhar

da poesia que é o seu corpo

da música que somos nós

da sinfonia que é o nosso clandestino amor.

Insanidade!

Loucura dos que amam, que me dá a vida! Fico passeando, e passando pela sua vida.

Devassa!

Vida? Quando começarei viver a minha?

As coisas tomam rumos errados, e por mais errado que seja esse amor, jamais o deixarei de sentir, jamais morrerá, viverá aqui em nosso leito,

no lado oblíquo do meu peito.

É injustificavelmente pecaminoso, igualmente intenso, absurdamente estranho.

Quero os dois mundos,

quero todos os mundos ao mesmo tempo,

com a mesma intensidade,

o mesmo respeito,

o mesmo ciúme,

com a mesma dor;

dor, que é ver você vivendo a sua cotidiana vida, longe do nós, longe desse clandestino sentimento.

Doente!

Essa talvez fosse minha melhor descrição, uma vez que a paixão é uma doença.

Insano!

Pensamentos e desejos insanos, é o que tenho, é o que sou agora!

Não é justo com você, não é justo comigo,

não é justo com nenhum de nós, os envolvidos!

Mas quem disse que o amor e vida são... justos?


(O projeto inicial desse texto deu inicio a poesia "Devassa".)


Edson Carvalho Miranda

03-12-2008

6 comentários:

Lully disse...

...terrivelmente insano, forte, brutal mas...incrivelmente lindo!!!! Como tudo que vem de você!!!

Anônimo disse...

Fantástico esse poema! Que tema! Que forte!Lendo isso, comecei a refletir sobre umas coisas. O Eu-lírico está preocupado com o amor dedicado a alguém... Se o amor de quem se ama é aceito por quem já é amado por outro alguém, onde está o problema? A questão da "culpa" por amar alguém que já é amado por outro alguém não procede. Agora a culpa por amar duas pessoas simultaneamente é que é a questão do tão insensato querer. O medo de ferir um e outro, de não se dedicar, de não estar perto, compartilhar...isso dói. Querer a quem? A um? A outro? Aos dois??!!!!! Admitir ou não essa situação pode causar danos profundos ao coração. Ojeriza ao amor. Aversão. Retração. O coração pode fechar-se totalmente e o que outrora era amor, torna-se-á desilusão. Aí sim, meu caro, a morte seria a melhor escolha. O amor romântico é trágico.
Parabéns pela sua composição. Você tem muito talento.
Um abraço...

Unknown disse...

Vou quebrar o protocolo de não responder postagem. Perdoem-me!
Anônimo ou Anônima, lendo seu comentário fiquei com a sensação de que você estivera mesmo que por alguns instantes dentro da minha mente dada sua sensibilidade em notar algo tão sublime e sutil no texto, que diante dos sentimentos exacerbados torna-se quase invisível.
Seu comentário não só engrandeceu meu texto, mas também me abriu a perspectiva da continuação do mesmo, porém partindo-se do prisma da pessoa que vive os dois amores, os quais você notou. Caso haja interesse, manifeste-se e será um prazer receber-te para darmos continuidade no texto, mas agora a quatro mãos.
Obrigado pelo comentário, seja sempre muito bem vindo(a) aqui.

Anônimo disse...

Que honra, escritor! Mas não há nada demais no que percebi do texto. A escolha de suas palavras é que fizeram com que percebesse o conflito entre o sentir e por quem sentir... à respeito do seu convite, sinto-me profundamente tentado a aceitar seu desafio, mas não chego ao seus pés!! obrigado

Anônimo disse...

A insensatez e a culpa fazem deste sentimento algo ainda mais puro do que é de verdade.
Você meu lindo amigo poeta, meu preferido, conseguiu mais uma vez fazer com que houvesse interação total dos leitores, sinto-me parte dele. Parabéns mais uma vez...vc é o máximo!!!!

jaddy lee disse...

Cara! Você é realmente bom nisso!! Que alma sensível e fantástica! Adorei esse poema. Deveria registrá-lo. Um forte abraço.